Barcelona recebeu entre 30 de setembro e 2 de outubro mais uma edição do The District, o maior encontro europeu dedicado ao investimento e inovação no setor imobiliário. Foram três dias intensos, com centenas de oradores internacionais, dezenas de painéis em paralelo e milhares de participantes vindos de todos os continentes. Um verdadeiro epicentro global, onde se discutiram as tendências que estão a transformar o mercado, do capital institucional à tecnologia, passando pela sustentabilidade e pelo impacto social.
A diversidade da agenda reflete a complexidade crescente do setor: financiamento, ESG, habitação acessível, data centers, logística, hospitality, proptech, cidades inteligentes, avaliação e muito mais. O The District não é apenas um palco de apresentações, mas um espaço de confronto de ideias, de partilha de boas práticas e de construção de redes de valor.
Dia 1 — Macro tendências, capital e classes de ativos
O primeiro dia abriu com foco nas tendências macroeconómicas e financeiras que moldam o setor. Entre a desaceleração global, a volatilidade dos mercados e a crescente regulação, destacou-se o papel dos capitais institucionais e das novas geografias de investimento. Houve debates fortes sobre habitação acessível, fundos alternativos, mercados secundários e sobre como a transição energética vai impactar a valorização de ativos.
As sessões dedicadas a classes específicas – residencial, logística, retail, hospitality, data centers – mostraram que cada segmento enfrenta pressões próprias, mas todos convergem na mesma exigência: alinhar retorno financeiro com sustentabilidade e relevância social.
Dia 2 — Capital, impacto social e avaliação
O segundo dia foi marcado por três participações diretas de José Covas, em representação do RICS e enquanto líder da José Covas Real Estate.
No painel “Alternative Capital: Funds, Platforms, and Co-Investment Strategies”, o debate centrou-se nas novas formas de financiar projetos imobiliários. A mensagem-chave foi clara: mais do que o custo do capital, muitas vezes o decisivo é o tempo de acesso. A diferença entre um projeto viável e um projeto inviável mede-se, no fim do dia, na taxa interna de rentabilidade (TIR) – e a agilidade na estruturação é o fator crítico.
Seguiu-se o painel “Unlocking Value through Social Impact: Metrics and Strategies in Residential Real Estate”, onde se foi além da simples medição de indicadores ESG. A reflexão centrou-se no que deve estar presente em cada projeto para que este seja verdadeiramente sustentável para a sociedade. Saúde, trabalho, educação e comunidade foram destacados como pilares estruturantes. A mensagem foi inequívoca: não basta erguer edifícios; é preciso criar ecossistemas de vida que respondam às necessidades reais dos ocupantes.
A tarde terminou com o painel “What’s It Worth Now? Rethinking Valuation in 2025”, moderado por José Covas. A discussão percorreu os grandes desafios da avaliação: como integrar a volatilidade macroeconómica e os fatores ESG, como preparar os avaliadores para novas exigências de formação e, inevitavelmente, qual o impacto da inteligência artificial. O debate deixou em aberto a questão: será a IA uma ameaça ou uma oportunidade para reforçar o papel estratégico da profissão?
Dia 3 — Hospitality, senior living e inovação
O último dia foi dedicado às tendências mais disruptivas e às novas formas de habitar e investir. O hospitality esteve em destaque, com o turismo e a hotelaria a enfrentarem a dupla pressão da digitalização e da sustentabilidade. Houve também grande enfoque no senior living e nas soluções de habitação intergeracional, respondendo ao envelhecimento demográfico e à procura crescente por projetos que combinem saúde, bem-estar e comunidade.
As sessões abordaram ainda proptech, inteligência artificial e cidades inteligentes, evidenciando como a tecnologia pode ser um catalisador de eficiência, mas também um fator de disrupção profunda nos modelos de negócio. Discutiu-se o papel das cidades como plataformas de inovação, integrando mobilidade, energia e planeamento urbano sustentável.
Tendências que vão marcar a próxima década
O The District 2025 mostrou que o imobiliário europeu está num momento de mudança estrutural. As conclusões mais fortes que emergem destes três dias apontam para três direções principais:
Capital cada vez mais diversificado e ágil, onde o tempo de acesso é tão decisivo quanto o custo.
Projetos com impacto social real, que integrem saúde, trabalho, educação, bem-estar e comunidade como parte da equação de valor.
Novas formas de viver e investir, do senior living ao hospitality, passando pela digitalização e pela inteligência artificial.
Mais do que seguir tendências, o setor precisa agora de as transformar em prática concreta. A próxima década será definida pela capacidade de alinhar rentabilidade, sustentabilidade e relevância social – porque só assim o imobiliário continuará a ser motor de valor económico e de progresso coletivo.
